Coluna do Blog - O Brasil diante do GPS global: risco ou oportunidade?

 

A recente possibilidade de os Estados Unidos limitarem o acesso de países ao sinal de GPS reacendeu um debate estratégico que há tempos é evitado no Brasil: a dependência tecnológica em sistemas de navegação global. Embora o GPS norte-americano seja utilizado em praticamente todos os setores – de transporte a agricultura, de aviação a serviços militares –, ele não é o único disponível no planeta. A questão que se impõe agora é se o Brasil deve seguir dependente ou buscar alternativas para garantir sua autonomia em um eventual cenário de bloqueio.

O sistema GPS (Global Positioning System), criado e controlado pelo Departamento de Defesa dos EUA, é gratuito, mas não totalmente garantido. Em situações de conflito ou tensões geopolíticas, os Estados Unidos têm o poder de degradar ou bloquear o sinal em determinadas regiões do mundo. Diante disso, cresce o alerta sobre a vulnerabilidade de países que, como o Brasil, não possuem um sistema próprio.

Entre as alternativas viáveis estão o GLONASS (da Rússia), o Galileo (da União Europeia), o BeiDou (da China) e o IRNSS (da Índia). Todos são sistemas de navegação por satélite com graus variados de cobertura, precisão e disponibilidade. O BeiDou, por exemplo, já tem cobertura global e é usado em centenas de milhões de celulares e dispositivos ao redor do mundo, especialmente em países asiáticos e africanos.

A Índia, com seu sistema IRNSS – também chamado de NavIC – tem buscado acordos com outros países emergentes para ampliar sua rede de influência tecnológica. Já a Rússia, em meio à tensão com o Ocidente, também oferece seu sistema como uma opção para nações que buscam reduzir dependências do eixo EUA-UE.

O Brasil, até hoje, não investiu em um sistema próprio de posicionamento global. Participa, porém, de projetos de observação da Terra, como o CBERS (em parceria com a China), mas ainda depende fortemente do GPS para navegação, agricultura de precisão, logística, telecomunicações, defesa e até para o funcionamento de bancos e redes de energia elétrica.

Especialistas em defesa e geopolítica têm alertado que a autonomia estratégica em sistemas de navegação é tão importante quanto a segurança cibernética e energética. Para o Brasil, ampliar a compatibilidade com outros sistemas globais e, eventualmente, desenvolver capacidade própria, pode ser a chave para evitar futuras crises em setores cruciais.

O momento atual, portanto, exige uma discussão séria e técnica sobre o futuro do país nessa área. A ameaça de bloqueio do GPS norte-americano não deve ser vista apenas como risco, mas também como uma oportunidade para o Brasil repensar sua posição na arena tecnológica internacional. Ficar à mercê de decisões externas em uma era cada vez mais digital e interconectada pode ser um preço alto demais a pagar.

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